catavento
- Que é isso que tá tocando?
- Air – La Femme d´Argent,, é do Moon Safari.
- Bacana, trouxeste isso da Europa também?
- Não, comprei na lojinha da esquina.
- Eu poderia ir de carro até o fim do mundo escutando isso.
- Eu também.
Noite.
O automóvel preto vai deslizando suave por cima da asfalto, estrada vazia, as luzes verdes no painel iluminam o ponteiro estacionado nas 100 milhas por hora, as luzes brancas do farol vão projetadas no asfalto.
- Funny how secrets travel.
- Ahn!?
- Nada, eu disse alguma coisa?
- Balbuciou fazendo aquela tua cara de David Bowie.
Tira um cigarro do maço que estava em cima do painel, coloca entre os lábios, vai pegar o isqueiro quando parece lembrar de alguma coisa.
- Posso?
- O carro é teu.
Acende o cigarro e deixa entre os lábios.
- Eu lembrei daquele filme do Lynch, sabe? Detesto o Lynch.
- Detestas todo mundo.
- Não é bem assim, gosto de uma porção de coisas.
- Não, é apenas aquela tua forma esquisita de detestar.
- Ainda te lembras o caminho?
- Lembro.
- Bom, porque eu não lembro.
- Faz tempo que não o vês?
- Mais ou menos tanto quanto tu, não é preciso cruzar o Atlântico para ficar distante, se tivesses te dado conta tinhas economizado.
- Não conseguiria te convencer nem que tivéssemos que passar duas semanas dentro deste carro que eu realmente gosto de estar lá, não é?
- Não, não conseguiria.
Silêncio, a estrada parece ficar mais escura e mais estreita, o ponteiro do acelerador avança na direção da marca das 120 milhas.
- Como soubeste que ele queria nos ver?
- Telefonou-me, e a ti?
- Mandou recado através de minha irmã, ela disse que não conseguia entender o que diziam do outro lado da linha, quando percebeu que era ele, chorou.
- Ela deveria ter vindo também.
- Disse que não conseguiria, além do mais achava que tinha algo de exclusivo na despedida de um dos três.
- Bobagem.
- Foi o que eu disse, fato é que não quis vir, acho que entendo.
- Vai mais devagar, tens que pegar uma entrada uns quinhentos metros ali abaixo.
- Só vim até aqui uma vez, ele me mostrou o lugar, mas foi ainda antes de comprar, eu incomodava dizendo que ele estava virando um abraça árvore.
- E ele?
- Nem ligava, dizia que ia fazer isso e aquilo, e que ia colocar um cata-vento na entrada.
- Típico dele. É ali.
Ao deixar a estrada principal, os pneus do automóvel estalam os cascalhos soltos da estrada que leva até a propriedade. Quando os faróis iluminam uma cancela de madeira, pára.
- Abre ali.
- Abre tu.
- Eu já vim dirigindo até aqui, dá pra fazer o favor de abrir a cancela?
O caroneiro desce, abre a cancela, o automovel passa, espera até que o outro retorne. No fundo do terreno uma luz solitária ilumina a casa.
- Vamos logo que está muito frio.
Estacionam, a porta se abre, de braços cruzados uma mulher aparece.
- Olá, eu sou Sônia. Já os aguardava, ele está dormindo agora, apliquei-lhe uma dose de morfina, entrem, vou acomodá-los, amanhã poderão vê-lo.
O Cata-ventos ronronava sobre a porta quando entraram.
- Que é isso que tá tocando?
- Air – La Femme d´Argent,, é do Moon Safari.
- Bacana, trouxeste isso da Europa também?
- Não, comprei na lojinha da esquina.
- Eu poderia ir de carro até o fim do mundo escutando isso.
- Eu também.
Noite.
O automóvel preto vai deslizando suave por cima da asfalto, estrada vazia, as luzes verdes no painel iluminam o ponteiro estacionado nas 100 milhas por hora, as luzes brancas do farol vão projetadas no asfalto.
- Funny how secrets travel.
- Ahn!?
- Nada, eu disse alguma coisa?
- Balbuciou fazendo aquela tua cara de David Bowie.
Tira um cigarro do maço que estava em cima do painel, coloca entre os lábios, vai pegar o isqueiro quando parece lembrar de alguma coisa.
- Posso?
- O carro é teu.
Acende o cigarro e deixa entre os lábios.
- Eu lembrei daquele filme do Lynch, sabe? Detesto o Lynch.
- Detestas todo mundo.
- Não é bem assim, gosto de uma porção de coisas.
- Não, é apenas aquela tua forma esquisita de detestar.
- Ainda te lembras o caminho?
- Lembro.
- Bom, porque eu não lembro.
- Faz tempo que não o vês?
- Mais ou menos tanto quanto tu, não é preciso cruzar o Atlântico para ficar distante, se tivesses te dado conta tinhas economizado.
- Não conseguiria te convencer nem que tivéssemos que passar duas semanas dentro deste carro que eu realmente gosto de estar lá, não é?
- Não, não conseguiria.
Silêncio, a estrada parece ficar mais escura e mais estreita, o ponteiro do acelerador avança na direção da marca das 120 milhas.
- Como soubeste que ele queria nos ver?
- Telefonou-me, e a ti?
- Mandou recado através de minha irmã, ela disse que não conseguia entender o que diziam do outro lado da linha, quando percebeu que era ele, chorou.
- Ela deveria ter vindo também.
- Disse que não conseguiria, além do mais achava que tinha algo de exclusivo na despedida de um dos três.
- Bobagem.
- Foi o que eu disse, fato é que não quis vir, acho que entendo.
- Vai mais devagar, tens que pegar uma entrada uns quinhentos metros ali abaixo.
- Só vim até aqui uma vez, ele me mostrou o lugar, mas foi ainda antes de comprar, eu incomodava dizendo que ele estava virando um abraça árvore.
- E ele?
- Nem ligava, dizia que ia fazer isso e aquilo, e que ia colocar um cata-vento na entrada.
- Típico dele. É ali.
Ao deixar a estrada principal, os pneus do automóvel estalam os cascalhos soltos da estrada que leva até a propriedade. Quando os faróis iluminam uma cancela de madeira, pára.
- Abre ali.
- Abre tu.
- Eu já vim dirigindo até aqui, dá pra fazer o favor de abrir a cancela?
O caroneiro desce, abre a cancela, o automovel passa, espera até que o outro retorne. No fundo do terreno uma luz solitária ilumina a casa.
- Vamos logo que está muito frio.
Estacionam, a porta se abre, de braços cruzados uma mulher aparece.
- Olá, eu sou Sônia. Já os aguardava, ele está dormindo agora, apliquei-lhe uma dose de morfina, entrem, vou acomodá-los, amanhã poderão vê-lo.
O Cata-ventos ronronava sobre a porta quando entraram.