Eu não lembro dos meus primeiros passos. Não me lembro de minha primeira palavra (embora minha mãe diga que foi: Mãe).
Não lembro da primeira vez que comi feijão ou da primeira vez que tomei limonada. Lembro com ressalvas do meu primeiro beijo.
Com certeza não lembro do primeiro texto que eu escrevi e provavelmente eu fiz alguém chorar com garranchos e certamente alguma homenagem a minha mãe.
Não lembro qual foi a primeira partida de futebol que eu assisti ou a primeira comemoração em família.
Não lembro a primeira vez que eu fui amado por alguém.
Lembro no entanto da primeira mágoa que eu tive na vida.
Lembro de cada pessoa que me machucou.
Eu sei o nome das pessoas que me bateram e não tenho a mais vaga recordação dos afagos que eu recebi.
Não se trata de uma memória seletiva masoquista, mas enfim. Aprendi quando tropecei porque sempre tive quem me desse a mão.
De algumas mãos eu resolvi não soltar mais. As mãos que me levantaram me fizeram os maiores carinhos.
Hoje eu vou dormir pensando em todos os que não foram indiferentes na minha vida.
Alguns foram pedras e outros escudos, mas todos deixaram suas marcas, acho que no fim, isso que importa.