segunda-feira, 26 de maio de 2008

Coluna Esportiva - Maycão



É o fim. Estranho começar uma coluna assim, não acham ? Mas foi assim que o domingo começou. Mais precisamente as 9h da manhã, um manézinho da ilha, pega uma raquete e começa a dar os últimos toques na bola como profissional. O adversário? Pouco importa. Por que ali se encerrava uma era de ouro no tênis brasileiro e mundial. Visivelmente fora de forma, e com dores no quadril, essas que o fizeram encarar esse ano como turnê de despedida, Gustavo Kuerten entra na arena Philippe Chatrier, com praticamente todos seus 15.166 lugares ocupados, o veterano não escondeu a emoção e derrubou algumas lágrimas antes de iniciar o embate com francês Paul-Henri Mathieu, 19 colocado no ranking da ATP, que ostenta uma curiosidade, também venceu um ex número um do mundo na sua temporada de despedida, Pete Sampras no ano de 2002.
O jogo: Guga entra em quadra com um uniforme praticamente igual ao usado 11 anos atrás, quando conquistou Roland Garros pela primeira vez, e a torcida já o aplaude de pé. Com alguns lampejos da velha forma, Guga não conseguiu manter o placar parelho durante muito tempo no primeiro set. Após ceder três break points no quarto game, o brasileiro teve seu serviço quebrado e viu o francês abrir 3/1. Na disputa seguinte guga chegou a ameaçar o saque do rival com 0-30, mas o francês retomou o controle dos pontos e ampliou o placar para 4/1. Com uma quebra de vantagem sobre o catarinense, o francês manteve o ritmo e, em 31 minutos, pôs fim ao primeiro set com um placar de 6/3. A segunda etapa da partida foi diferente. Com o direito de abrir o set com o saque, Guga venceu os três primeiros games de saque e mostrava confiança e um bom repertório de golpes. Além de sua conhecida e eficiente esquerda paralela, o ex-número um do mundo ainda arriscava boas bolas curtas e subidas à rede. Mas a igualdade do placar acabou no sétimo game, quando Kuerten teve os primeiros break points contra. Embora tenha conseguido salvar o primeiro ponto de quebra, Guga viu seu saque ser vencido pelo francês, que pela primeira vez no set assumiu a dianteira: 4/3. Guga, contudo, não se desmotivou. Pelo contrário, e logo no oitavo game acertou duas paralelas incríveis com sua esquerda na seqüência, faturou sua primeira quebra de saque no jogo e devolveu o equilíbrio ao placar, com 4/4. No nono game, porém, o brasileiro voltou a ter o serviço ameaçado após Mathieu abrir 15-40 e ter duas chances para retomar a frente do placar. Kuerten salvou o primeiro break com um ace e o segundo ao forçar uma esquerda cruzada, devolvida na rede pelo francês. Após a igualdade, o representante da casa teve sua terceira chance de vencer o saque de Guga e não desperdiçou e voltou a ter vantagem na parcial Com 2 a 0 de desvantagem no placar, Guga ainda viu Mathieu quebrar seu saque já no terceiro game do terceiro set, abrindo 2/1 e ampliando para 3/1 na seqüência. O ex-número um do mundo, visivelmente prejudicado por conta do condicionamento físico, aproveitou seus últimos momentos como tenista profissional para interagir com o público parisiense, que por sua vez já ensaiava alguns gritos de despedia ao xodó brasileiro. O catarinense ainda teve a chance de conseguir sua última quebra de saque no sexto game, quando chegou a 30-40, mas foi impedido pelo francês, que manteve o serviço e chegou a 4/2. Mesmo com o desempenho minado pela condição física, Guga venceu o ponto mais bonito da partida e foi aplaudido de pé pelos mais de 15 mil espectadores na quadra Philippe Chatrier: acuado quando o adversário estava à rede, o brasileiro aplicou um belo lob. Mathieu evitou ser encoberto pela bola de Kuerten e ainda desferiu uma bola curta. Os dois tenistas trocaram voleios na rede até que Guga alpicasse uma bela passada no rival. O francês quebrou mais uma vez o saque de Guga, que antes de disputar seu último game na carreira assistiu a uma linda ola da torcida francesa. Após cinco pontos, Mathieu chegou a 40-30, com o match point, salvo pelo brasileiro com uma linda passada.
O último ponto da carreira de Guga, no entanto, veio logo em seguida. Com uma deixadinha na rede, o principal representante do tênis masculino brasileiro se despediu . E mais uma vez foi saudado pela torcida de pé.
Nos últimos games, Guga praticamente jogou uma partida exibição, saudando a torcida, mandando beijos para Larry Passos, seu treinador desde os 10 anos, que assistiu o jogo acompanhado da filha de 4 anos. Depois de encerrado, Guga sentou – se a beira da quadra, e visivelmente emocionado, cobriu a cabeça com a toalha e deixou as lágrimas rolarem mais uma vez. Homenageado com um troféu, onde a quadra de saibro era mostrada desde as camadas mais baixas, até o saibro em si. Ali mesmo Guga recebeu mais um convite do presidente da federação francesa de tênis. Jogar as duplas do mesmo torneio. Convite esse aceito, mas ainda sem data para o jogo.
Kuerten se despede sendo o terceiro tenista com menor ranking a faturar um título de Grand Slam: em 1997, quando surpreendeu o mundo com a taça do Aberto da França, o brasileiro magricela de 20 anos aparecia na 66ª colocação da lista, e único tenista sul-americano a encerrar uma temporada na liderança do ranking de entradas da ATP e dono do posto por 43 semanas.
Obrigado Guga... é só o que podemos dizer.

Um comentário:

Tiago Paixão disse...

O Guga não foi maior, pois se fosse, não iria caber mais no Brasil. Ele queria, acima de tudo, ser Brasileiro. Numa época em que alguns dos ídolos esportivos do Brasil não nasceram nem perto do País, o Guga foi um exemplo de um cara que se orgulhava do que era. Nada de palhaço que fica um ano fora do Brasil e fica com sotaque. Na de palhaço que é superstar e esquece que é atleta. Esquece da simplicidade que alegra o esporte. Isso era o Guga, isso que faltará a partir de hoje.