segunda-feira, 5 de maio de 2008

Torres de Babel - Carla Torres


Metamorfoseando
O nome da coluna (Torres de Babel) hoje vai ajudar, funcionando como metáfora que apóia a minha quase pretensiosa, mas não inédita teoria sobre o futuro da humanidade. Também, Charles Darwin, a quem admiro pela paciência de ter ficado anos observando mariposinhas, fundamenta minhas idéias com sua teoria sobre seleção natural das espécies. Paralelamente, esses novos achismos e achados sobre a evolução psicofísica da humanidade podem ser um bom panorama sobre o que nos reserva um futuro talvez bem próximo.
O fato é que o mundo não vai acabar. Pode acabar do modo como o conhecemos, e me refiro a uma imensa lista de fatores, desde os valores humanos às bolsas de valores. Sobre a Torre (minha xará), confesso que gostaria de ter visto o que dizem que foi a construção daquela imensidão erguida à custa da vida de tantos e que tenta explicar o surgimento das tantas línguas faladas pela humanidade sobre a Terra. Reza a lenda que Babel, caminho mais “curto” e certo para o Céu, foi erguida não somente sobre pedras, barro ou outros entulhos. A estrutura da escada para o Paraíso também guardaria os corpos de milhares de sonhadores e ambiciosos não tão nobres. Ocorre que, ao longo dos tempos, o gigante Babel afastou de tal modo os grupamentos de pessoas empenhadas em construi-la, que esses núcleos humanos passaram a, inclusive, falar línguas diferentes.
De igual modo, a Babel dos nossos dias afasta cada vez mais os grupamentos humanos, ao ponto de alguns inclusive deixarem de ser humanos no sentido mais completo da palavra. Uma diferença importante, no entanto, está no rumo da Babel do século 21: Por que o céu, se o inferno das bolsas de valores é tudo que os maiores empreiteiros da vergonhosa Babel sonham para si? Claro, assim como a antiga Babel, é o alto custo da construção: somam muitos milhares e milhões as vidas que sucumbem ao interesse maior do lucro a qualquer preço, a começar pela concentração de renda que redunda, claro, na concentração da comida, literalmente!
Aí o meu amigo Darwin pode me apoiar um pouco com a sua Teoria da Evolução Natural das Espécies, que – em resumo – nos diz que o mais forte, o mais adaptado ao meio sobrevive. Sim, a dura sentença talvez nos explique o porquê de, ao longo dos tempos, tantos grupamentos humanos e etnias inteiras terem sido praticamente dizimadas ou terem chegado à extinção. Quando não fruto da ação natural, esse ciclone devastador da humanidade e dos ecossistemas é fruto da ação do próprio homem, em ações cruéis sobre os contemporâneos que, em muitos casos, habitam o mesmo solo (ou a mesma casa) e têm a infelicidade de contar com menor capacidade intelectual, física, bélica ou mesmo com a “imperdoável” falta de ambição ou de maldade. Aqui podemos lembrar de episódios que vão das invasões vickings às bombas atômicas, das chacinas aos episódios deflagrados na mídia atual, nos quais aquela que deveria ser a mão amiga, aquela mesma que embalou o berço, é a que aprisiona, esgana e joga pela janela.
Por esses e tantos outros exemplos da indiscutível evolução da humanidade (não necessariamente no melhor caminho) é que eu sustento a teoria de que o mundo não vai acabar. O curso de tão vultoso desenvolvimento não poderia ser interrompido. A única coisa que vai acontecer é que ele tende a se expandir e a vida de todos só tende a piorar (para os que restarem). Mas aí eu pergunto: de que adianta um encéfalo maior que acumule mais informações, como nos dizem os prognósticos para o desenvolvimento psicofísico a médio e longo prazo na história da humanidade, se a falta de água, alimento e amor esvaziar as barrigas e os corações? Sim, provavelmente uma nova espécie surgirá, pois a fraca humanidade não resistiria a tanta evolução.

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